00/05/60 • MINHAS PALESTRAS COM HUMAHÃ
Década de 60 > 1960
Publicada em 30/05/1978
Salve Deus
– Neiva! – começou Humahã – precisas distinguir entre o verdadeiro e o falso. Deves aprender a ser verdadeira em tudo, em pensamentos, palavras e ação. Por mais sábia que sejas um dia, ainda terás muito que aprender. Todo conhecimento é útil e dia virá em que possuirás muito amor e sabedoria, e tudo manifestará em ti. Entre o bem e o mal, o ocultismo não admite transigência. Custe o que custar, é preciso fazer o Bem e evitar o Mal.
Teu corpo astral, mental se aprazerá em se imaginar orgulhosamente separado do físico.
Eu o ouvia como se estivesse distante dele. Ele me observou dizendo:
– Neiva, gostas de pensar muito em si mesma. Seta Branca está imensamente vigilante, sob pena de vires a falir. Mesmo quando houveres te desviado das coisas mundanas, ainda precisarás meditar, fazendo conjecturas acerca de ti mesma. Jesus nos adverte: ANTES DE CULPAR O TEU VIZINHO, POR QUE
NÃO SER SEVERO CONTIGO MESMO?
A tua vidência é algo sem limite, é algo sublime, tens tudo para fazer o bem e o mal. Se fizeres o mal, te destruirás; se fizeres o bem, crescerás como a rama selvagem. Não te esqueças, também, que, acima de tudo, estás aqui para aprender a guardar segredo, mesmo fazendo mistério das tuas revelações. Esforça-te por averiguar o que vale a pena ser dito e lembra-te que não se deve julgar uma coisa pelo seu tamanho, pois, numa caisa pequena, muitas vezes, há maiores sentidos. Não deves acolher um pensamento somente porque existe nas Escrituras durante séculos. Deves fazer distinção entre o que é útil ou inútil.
Alimentar os pobres é boa ação, porém alimentar as almas é ainda mais nobre e útil do que alimentar os corpos.
Quem quer que seja rico pode alimentar o corpo, porém, somente os que sorvem o conhecimento espiritual de Deus podem alimentar as suas almas. Quem tem conhecimento tem o dever de ensinar aos outros.
A tua responsabilidade, Neiva, será a maior do mundo. Nunca poderás dizer tudo e não poderás, também, te calar.
E tendo dito tudo isso, começou a contar este exemplo:
– Eu era muito jovem quando me enclausurei neste mosteiro. Porém, antes de entrar aqui, tive grandes experiências e vi muitas coisas. Houve um tempo em que a Índia era o ponto principal para as revelações. Vinham de longe muitos curiosos e romeiros, magos e videntes. Viviam à espreita das oportunidades para suas alucinações. Certa ocasião veio da Inglaterra um famoso lorde. Ele vinha para saber o destino do seu filho recém-nascido. Ele foi atendido por um mestre que estava de saída, com seus companheiros já o aguardando numa célebre porteira, de onde cada um partiria na sua própria direção. Apesar da pressa demonstrada pelo mestre, o fidalgo insistiu e o mestre lhe contou, sem amor, o que via no destino da criança:
Disse que a criança teria um mau destino e deu todo o roteiro de sua vida: em tal tempo lhe aconteceria isto, em tal tempo isto será assim, etc. O fidalgo saiu dali louco, pois seu filho que, até então, era a sua alegria, passou a ser a sua própria sentença. A partir de então, o fidalgo nada mais fez senão sofrer a espera dos acontecimentos durante toda a sua vida. Porém, nada aconteceu! O jovem foi feliz, casou-se e viveu normalmente. O pai, porém, viveu sempre amargurado à espera dos maus acontecimentos.
Não é preciso te dizer, Neiva, que as vibrações do fidalgo destruíram a vida do apressado mestre. Ninguém teve intenção de magoar ninguém, porém o pecado das palavras impensadas de um mestre ou clarividente é algo muito sério. Veja sempre em tua frente um fidalgo, um homem que sofreu as consequências de seu orgulho, porém nunca faças como o impulsivo mestre, nunca participes com alguém.
Serás, antes de tudo, como uma psicanalista. É bem melhor que as pessoas saiam de perto de ti te desacreditando do que desacreditando nelas mesmo. Volte para o teu corpo, filha, e vá enfrentar as feras, como dizes, porém saiba que todos são melhores do que tu. Elas não têm ideal como tu. Elas sofrem com o teu incontrolável temperamento.
– Me julgam como se eu fosse uma qualquer, porque sou motorista! – me queixei.
– Agora, para ti tudo é bom no caminho da evolução! – respondeu ele.
Dizendo isso ele se “fechou” e eu me senti já na minha casa.
(UESB Maio de 1960)