Evangelho - Acervo Koatay 108

Ir para o conteúdo

Evangelho

               
      Em Grego, Ev significa excelente, muito bom; Anguelom é mensagem, notícia. Evanguelom, que se traduziu como Evangelho, quer dizer “notícia ou mensagem excelente” ou “boa nova”, isto é, a jornada de Jesus, o Cristo, na Terra.
     Essa ideia é confirmada por Lucas (II, 8 a 15): “Ora, naquela mesma região havia uns pastores que velavam e à noite se revezavam na guarda de seus rebanhos. E eis que se apresentou junto deles um Anjo do Senhor e a claridade de Deus os cercou de refulgente luz, e tiveram grande temor. E o Anjo lhes disse: Não temais, porque eis que vos anuncio uma grande alegria, que o será também para todo o povo, porque hoje vos nasceu, na cidade de David, o Salvador que é o Cristo Senhor! Este é o sinal: achareis um Menino, envolto em panos e reclinado num presépio. E subitamente apareceu com o Anjo uma numerosa legião da milícia celeste, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos Homens de boa vontade! Depois que os Anjos se retiram para os céus, os pastores diziam entre si: Passemos a Belém e vejamos o que sucedeu.”
     Foram, e encontraram Jesus recém-nascido. Essa a boa nova, o “Evanguelom”.

EVANGELHOS CANÔNICOS
     Os Evangelhos relatam episódios da vida de Jesus, compilados com palavras e discursos de Cristo, nos revelando a Sua mensagem salvadora, a Nova Estrada. Muitos escritos nos chegaram da antiguidade contando histórias relacionadas a Jesus, mas a Igreja Católica Apostólica Romana reconhece como autênticos somente quatro – chamados evangelhos canônicos – que foram escritos por Mateus, por Marcos, por Lucas e por João, chamados os Evangelistas. Os três primeiros têm notáveis semelhanças entre si e desenvolvem-se, por vezes, em longos períodos, de maneira paralela, pelo que se designam sinópticos, ou seja, podem ser contemplados com o mesmo olhar comum. Como João foi uma das reencarnações de Pai Seta Branca, buscamos sempre ler seu Evangelho.
     Os quatro Evangelhos relatam a Anunciação e o nascimento de Jesus, Sua vida pública nas peregrinações pela Palestina, terminando com Sua paixão, morte e ressurreição, reproduzindo a seu modo, mas sincera e lealmente, o conjunto de fatos e ideias destinados a fundamentar a fé em Jesus. No Novo Testamento, os Evangelhos são complementados por Atos e Epístolas, dando a base da Doutrina Crística.
     Em 2010 foram divulgados trabalhos de um pesquisador, Dr. L. Michael White, diretor do Instituto de Estudos sobre as Origens do Cristianismo da Universidade do Texas, Estados Unidos, em que ele afirma terem os Evangelhos servido para reforçar o ensinamento oral, com a narração de fatos adequados aos objetivos de seus autores. Assim, o texto de Lucas visava alcançar o povo greco-romano; os de Marcos e Mateus aos judeus e o de João para aqueles que deixavam uma seita judaica para ingressarem no cristianismo, que adotava pontos totalmente opostos ao judaísmo. Como não era um trabalho jornalístico, os Evangelhos foram baseados em antigas tradições orais que foram passadas pelos seguidores de Jesus após a sua crucificação. White conclui que os textos daqueles Evangelhos nada tinham de original de seus alegados autores, mas, sim, foram trabalhados, em sua maior parte, de modo a preencher as lacunas existentes por falta de material histórico e se desenvolveu através de performances dramáticas, em que se mantinham as que davam resultados positivos e se cortavam as que não faziam o efeito desejado.
Por isso, demoraram a ser escritos:
  • MARCOS – Entre os anos 70 e 75 dC, direcionado aos judeus seguidores de Cristo;
  • LUCAS – Entre os anos 90 e 100 dC, direcionado aos não judeus da cultura greco-romana;
  • MATEUS – Entre os anos 80 e 90 dC, para os judeus que deixaram Jerusalém após a queda do Templo; e
  • JOÃO – Entre os anos 95 e 120 dC, marcando a separação com os judeus e firmando as bases cristãs.
     Na Doutrina do Amanhecer não adotamos a Bíblia, a Lei Mosaica, a Velha Estrada, que só tem valor histórico para o povo hebreu, mas adotamos o Novo Testamento como a palavra viva de nosso Divino e Amado Mestre Jesus.
     Seguimos a Nova Estrada, a Escola do Caminho, trilhando nossa atual jornada dentro do que nos ensinou o Caminheiro.
     Para nossa Corrente, nossa visão de Jesus é Sua imagem viva e luminosa, ensinando e amando, e não a do Cristo crucificado, pendente da cruz. Até mesmo a cruz que usamos tem outro significado.
     No Templo, na Abertura dos Trabalhos Oficiais, fazemos a leitura de um trecho selecionado do Evangelho; nos Retiros, caso haja um orador credenciado, a leitura pode ser concluída com um comentário sobre o trecho lido, na certeza de que o Evangelho de Jesus não se limita ao brilhante conjunto de ensinamentos divinos, mas, sim, contém todo um código da Sabedoria de Deus que nos é revelado e do qual não podemos prescindir em nossas vidas.
     Temos que considerar, porém, duas partes muito importantes: dispomos dos Evangelhos escritos, a Doutrina de Jesus sujeita a transcrições, traduções e interpretações diversas através dos tempos, e do Evangelho Vivo, a luz potencial que faz parte intrínseca de todos os espíritos, especialmente nos encarnados, que dispõem da partícula divina, que se expande e impregna todo o ser à medida que é despertada pela emanação de Jesus, fazendo com que o Homem altere seus conceitos, suas atitudes e as formas de agir e reagir. Esse Jesus é o que aprendemos a conhecer e a amar pela prática do mediunismo na Doutrina do Amanhecer.
     Pelo amor, tolerância e humildade, pela prática da caridade e do perdão, pelo correto desenvolvimento e uso da mediunidade, aplicamos o Evangelho Vivo, mesmo que nunca tivéssemos tido contato com os Evangelhos escritos.

EVANGELHOS APÓCRIFOS ou GNÓSTICOS
     São narrativas de pessoas que conviveram com Jesus mas não são aceitas como verdadeiras pela Igreja Católica e que tiveram sua destruição determinada no Concílio de Nicéia, em 325 d.C., e incumbiu o bispo Atanásio de Alexandria de cumprir aquela decisão. Apesar da fama de rigoroso cumpridor das leis canônicas, um grupo de monges do vale do Nilo desafiou a ordem de Atanásio e, em vez de destruir os documentos que possuíam, acondicionaram-nos em urnas de argila, que foram colocadas em cavernas. Em 1945, uma parte daquele tesouro foi descoberta por Mohammed Ali Es-Samman e seus irmãos, que levaram o material – 13 livros ou códices, com mais de mil páginas escritas em copta com caracteres gregos – para sua residência, na aldeia de El Kasr, desconhecendo seu valor histórico. Tanto que muitos manuscritos foram usados para acender o fogo. Mas a notícia se espalhou, e, a partir de 1947, muitos pesquisadores e arqueólogos começaram as buscas nas grutas da região do Mar Morto, tendo sido encontrados manuscritos escritos em hebraico, alguns condizentes com a Bíblia e outros apócrifos. O Museu Copta do Cairo, em 1952, conseguiu a posse dos documentos encontrados por Mohammed, que receberam o título de A Bíblia de Nag Hammadi.
     Foi achado, em 1955, numa outra gruta, material que os cientistas puderam considerar como os mais antigos manuscritos da História descobertos pelo Homem. Eram anteriores à vinda de Jesus à Terra, e relatavam fatos da saga dos hebreus. Entre eles encontrou-se O Livro de Isaías, O Apócrifo de Gênesis (Manuscrito de Lameque) e A Regra da Guerra, que relata o embate final dos Filhos da Luz (tribos de Levi, Judá e Benjamim) contra os Filhos das Trevas (edomitas, moabitas, amonitas, filisteus e gregos).
     Em 1957, na região onde viveram os essênios, foram encontrados, nas ruínas do Mosteiro de Khirbet Qumran, os documentos entre os quais se encontravam os textos que comporiam os evangelhos apócrifos ou gnósticos. Este termo se refere à gnose, movimento pré-cristão, derivado da antiga religião iraniana e influenciado pelo Zoroastrismo, em que o indivíduo era impelido para si mesmo, marcando sua trajetória pela sua luz interior, pelo seu autoconhecimento. Na verdade, os quatro Evangelhos Canônicos descrevem os milagres e ensinamentos de Jesus, porém voltados para um caminho de fé e de prática do Bem. Os Evangelhos gnósticos dão uma outra visão: a da sabedoria e a de que o autoconhecimento é a via para a sabedoria do Homem. O que se verifica é que existiu um Jesus mais democrático, mais tolerante e menos autoritário, e os textos apócrifos eliminam a culpa e abrem caminho para uma fé pessoal, sem sequer tocarem na paixão de Cristo, sem darem importância ao fato da crucificação.
De modo geral, entre os principais textos apócrifos foram encontrados:
  • O Evangelho do Apóstolo Tomé, em que este é colocado em elevado nível de aproximação e afinidade com Jesus, sem cuidar da narrativa histórica do Mestre, mas sim das mensagens, sentenças e aforismos dos ensinamentos esotéricos do Cristo. Tomé, em aramaico, significa “gêmeo”, e ele teria como irmão gêmeo Tiago-o-Menor, o que levou a ser chamado apenas como gêmeo. Era natural da Galileia e estava entre os primeiros doze apóstolos de Jesus. Quando soube que Jesus havia ressuscitado e aparecido aos seus companheiros, afirmou que só ele vendo para crer. E Jesus se apresentou a ele, pedindo-lhe que conferisse suas chagas. Após a ascensão do Cristo, com a dispersão dos apóstolos, Tomé levou os ensinamentos de Jesus aos Partos, á Pérsia e à Índia, onde, em Madras, foi martirizado e morto pelo rei de Milapura. É considerado como o fundador da cristandade na Índia. Cronistas da antiguidade, como Filon e Flávio Josefo, afirmaram que o Evangelho de Tomé foi o Livro Sagrado dos Essênios, onde o lado místico de Jesus era revelado e apontada a volta aos ensinamentos originais do Divino e Amado Mestre. Segundo Tomé, Jesus teria dito: “Quem não conheceu a si mesmo não conhece nada, mas quem se conheceu veio a conhecer simultaneamente a profundidade de todas as coisas!” “O reino está dentro de vós e também em vosso exterior. Quando conseguirdes conhecer a vós mesmos, sereis conhecidos e compreendereis que sois os filhos do Pai Vivo. Mas, se não vos conhecerdes, vivereis na pobreza e sereis a pobreza!”. A foto ao lado é de um trecho do Evangelho de Tomé, escrito em copta;
  • O Evangelho de Maria Madalena, ou Miriam de Magdala, que apaga a figura da prostituta e pecadora, colocando ela como a discípula mais próxima de Jesus e a única a quem Jesus ministrava ensinamentos sobre a verdadeira evolução espiritual, e que demonstrava elevada compreensão da doutrina Crística, já ensinando que o reino de Deus está no interior de cada um e que o equilíbrio é o caminho ideal para nossa vida neste plano. Existe, no Evangelho de Filipe, o relato: “O Senhor amava Maria mais do que a todos e a beijou na boca repetidas vezes”,fato que, na época, só era admissível entre marido e mulher. Estudiosos deste texto apócrifo afirmam que a ideia foi demonstrar que Jesus era capaz de intimidade com uma mulher, não apenas no fator carnal, físico, mas na forma afetiva, intelectual e espiritual, dando liberdade total para o ser humano se realizar através da consciência e do amor em todas as suas dimensões. A união de Jesus e Maria Madalena demonstraria o realismo da humanidade de Jesus em seu aspecto sexual, que em nada altera sua dimensão espiritual ou divina, que pode ser alcançada através da harmonia de um casal unido pelo amor. Em uma passagem deste Evangelho, Jesus disse: “Eu não deixei nenhuma ordem senão o que eu lhe ordenei, e eu não lhe dei nenhuma lei, como fez o legislador; para que não seja limitada por ela”, trecho que contraria a autoridade da Igreja Católica;
  • O Evangelho de Filipe, escrito em Grego no final do Século I, tem muitas revelações, embora não estabeleça uma ordem cronológica dos ensinamentos de Jesus sobre as práticas espirituais, descrevendo os sacramentos originais de forma hermética, o que dificulta sua compreensão. Esses sacramentos foram, a princípio, somente ministrados aos discípulos do círculo interno, em condições muito especiais, e mais tarde levados, pela Igreja, a todos os católicos. Filipe nos revela em um trecho velado os sacramentos do batismo, da eucaristia, da crisma, da redenção e da câmara nupcial que, na época, foram considerados como Iniciações dos místicos. Em um trecho, ele afirma: “Três mulheres caminham sempre com o Senhor: Maria, sua mãe, a irmã dela e a Madalena, a qual é chamada de sua companheira”;
  • O Evangelho de Thiago, com narrativa que é a mais antiga sobre a família e a infância de Jesus, a partir de Joaquim e Ana, pais de Maria, a mãe de Jesus, tendo a obra considerada como o “Primeiro Evangelho”, tendo recebido o título de Proto Evangelho de Thiago, por relatar os antecedentes de Cristo, servindo de base a todos os demais Evangelhos;
  • Epístolas como as de Pedro a Filipe, a Terceira Epístola aos Coríntios;
  • Os Apocalipses, entre os quais os de João, Tiago e Pedro; e
  • Os Testamentos, incluindo os de Jacó, Abraão e Isaac.
     Foram reunidos escritos formando 112 livros, com 52 relacionados com o Antigo Testamento, e 60 referentes ao Novo Testamento. A Igreja Católica Apostólica Romana não divulgou o critério da escolha dos textos dos evangelhos canônicos mas considera que o que foi descoberto diferencia-se facilmente pela profusão de pormenores inúteis, por fatos duvidosos, por relatos anacrônicos, fantasiosos e sem confiabilidade, muitas vezes até mesmo imorais ou pouco decentes, contendo material anti-apostólico e de bases falsas, embora tenha incorporado aos textos canônicos livros apócrifos como o Livro de Judite, anexado ao texto de Ester, os Livros do Dragão e do Cântico dos Três Santos Filhos, embutidos em Daniel, e o Livro de Baruque, incluído na Epístola de Jeremias.
     Temos, ainda, O Evangelho de Judas, não incluído nas descobertas de Nag Hammadi, que é outro importante texto gnóstico, descoberto no vilarejo egípcio de Muhazafat al Minya, e apresentado ao mundo científico em 1980, que afirma ser o seu autor o mesmo Judas Iscariotes que traiu Jesus, apresentando uma versão diferente para a ação do discípulo, que afirma que o ato foi necessário para que fossem cumpridas as Escrituras e que ele não se matou. Judas teria consciência de sua reencarnação necessária para desencadear os atos profetizados na Bíblia, que culminariam com a crucificação de Jesus, que o perdoou. Após a morte de Jesus, Judas se retirou para o deserto a fim de fazer práticas espirituais. Pelo conteúdo desse evangelho, Judas Iscariotes seria um herói e não um traidor.
VEJA:
Voltar para o conteúdo