Proselitismo - Acervo Koatay 108

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Proselitismo

               
      Prosélito era como se designava o estrangeiro que vivesse em Israel e adotava o Judaísmo, e o trabalho de atração era denominado proselitismo, que passou a designar, depois, todo o movimento para atrair alguém para uma seita ou doutrina.
      Na época de Jesus, o proselitismo judaico fundamentava-se no atrativo que aquela doutrina apresentava para os pagãos já cansados da vida depravada física e moralmente.
      Já naquele tempo, segundo Mateus (XXV, 15), Jesus dizia: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque palmilhais o mar e a terra para fazerdes um prosélito e, depois de o terdes feito, o fazei duplamente mais digno do inferno do que vós!”
      Por isso, devemos ter grande cuidado com a tendência que temos de querer que pessoas entrem na Doutrina, com a intenção de ajudá-las em suas vidas e no cumprimento de suas metas cármicas.
      Isso é natural, pois, em nossa vivência na Corrente, testemunhamos grandes fenômenos, curas maravilhosas, obtendo grandes graças e benefícios que nos levaram a encarar a vida de outra maneira.
      E isso nós queremos proporcionar àquele que está perdido em aflições, desarmonias e revoltas porque ainda não encontraram seu verdadeiro caminho.
Neste caso, podemos vibrar, em nossos trabalhos, pedindo que recebam as forças para se reequilibrarem, ou convidá-los a passar como pacientes, mas sempre alertando de que a nada ficarão obrigados, especialmente a entrar na Doutrina.
      Caso isto aconteça, deverá ser por livre e espontânea vontade daquele que se sentir tocado pela força de nossa Corrente e expressar essa vontade, baseada em seu livre arbítrio.
Um bom exemplo da reação ao proselitismo é uma obra do Prof. José Régio, intitulada “CÂNTICO NEGRO”:
“Vem por aqui” – dizem-me alguns com os olhos doces,
estendendo-me os braços, e seguros
de que seria bom que eu os ouvisse
quando me dizem: “Vem por aqui”!
Eu olho-os com olhos lassos,
(há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
e cruzo os braços,
e nunca vou por ali!…
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
com que rasguei o ventre à minha mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
por que me repetis: “vem por aqui”?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
redemoinhar aos ventos,
como farrapos arrastar os pés sangrentos,
a ir por aí…
Se vim ao mundo foi
só para desflorar florestas virgens,
e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada!
Como, pois, sereis vós
que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
para eu derrubar meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
e vós que amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
amo os abismos, as torrentes, os desertos…
Ide! Tendes estradas,
tendes jardins, tendes canteiros,
tendes pátrias, tendes tetos,
e tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a como um facho a arder na noite escura,
e sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
mas eu, que nunca principio nem acabo,
nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
é um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
não sei para onde vou,
só sei que não vou por aí!
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